O contínuo debate público sobre o casamento homossexual gerou muitas perguntas da mídia, do público em geral e dos membros da Igreja em relação à posição da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias na questão específica do casamento, e da homossexualidade em geral.
A entrevista a seguir foi feita em 2006 com o Élder Dallin H. Oaks, membro do Quórum dos Doze Apóstolos da Igreja e o Élder Lance B. Wickman, membro dos Setenta. Essas autoridades gerais responderam as perguntas de dois membros da equipa de Relações Públicas da Igreja. A transcrição da entrevista encontra-se abaixo para ajudar a esclarecer a posição da Igreja em questões tão importantes, complexas e delicadas. Site da igreja sobre o tema.
RELAÇÕES PÚBLICAS: Primeiramente, vocês poderiam explicar-nos por que todas essas questões envolvendo homossexualidade e casamento homossexual são importantes para a Igreja?
ÉLDER OAKS: Não é apenas a questão de a sociedade dever, ou não, ser mais tolerante com o estilo de vida homossexual. Nos últimos anos temos visto a incansável pressão dos defensores desse estilo de vida para que se aceite como normal o que não é, e caracterizar aqueles que discordam como intolerantes, fanáticos e irracionais. Tais defensores são rápidos em exigir a liberdade de palavra e pensamento para si próprios, e igualmente rápidos em criticar os que têm um ponto de vista diferente e pretendem, se possível, silenciá-los, aplicando-lhes o rótulo de “homofóbicos”. Num país onde os ativistas homossexuais obtiveram importantes concessões, vimos até mesmo um pastor religioso ser ameaçado de prisão por pregar, do púlpito, que o comportamento homossexual é considerado pecaminoso. Dadas essas tendências, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias deve tomar uma posição a respeito da doutrina e do princípio. Isso é mais do que uma questão social — em última análise, pode ser um teste de nossas liberdades religiosas mais básicas: ensinar o que sabemos que nosso Pai Celestial quer que ensinemos.
RELAÇÕES PÚBLICAS: Digamos que meu filho de dezessete anos venha conversar comigo e, depois de grande dificuldade tentando expressar-se, diga-me que acredita sentir atração por homens — que não tem nem nunca teve interesse nenhum por garotas. Ele acredita que provavelmente é gay. Ele diz que tentou reprimir esses sentimentos. Ele permanece casto, mas compreende que seu modo de ser vai tornar-se devastador para a família, porque sempre falamos a respeito de sua missão na Igreja e seu casamento no templo. Ele simplesmente acha que não pode mais viver o que considera ser uma mentira, e sente-se transtornado e deprimido. O que lhe digo, como pai?
ÉLDER OAKS: Você é meu filho. Sempre será meu filho e estarei sempre aqui para ajudá-lo.
A distinção entre sentimentos ou inclinações de um lado e comportamento de outro, é muito clara. Não é pecado ter inclinações, mas, se atendidas, produzirão um comportamento classificado como o que seria uma transgressão. O pecado é submeter-se à tentação. Nem sempre podemos escapar dela. Até o Salvador foi tentado.
O Novo Testamento afirma que Deus nos deu mandamentos que são difíceis de cumprir. Está em I Coríntios capítulo 10, versículo 13: “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar”.
Acho que é importante que você entenda que a homossexualidade, sobre a qual falou, não é um substantivo que especifique uma condição. É um adjetivo que descreve sentimentos ou comportamentos. Eu o incentivo, ao enfrentar esses desafios, em não pensar em si próprio como ‘algo’ ou ‘um outro’, mas, sim, que é um membro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que é meu filho, e que está enfrentando desafios.
Todos têm desafios para enfrentar. Você descreveu um dos mais inquietantes. Ele é comum em nossa sociedade e também se tornou polêmico. Mas é apenas um da hoste de desafios que homens e mulheres têm de enfrentar, e eu só o incentivo a procurar a ajuda do Salvador, a fim de resistir à tentação e reprimir o comportamento que fará com que você se arrependa ou faça com que sua situação de membro da Igreja seja questionada.
RELAÇÕES PÚBLICAS: Se alguém tiver um grande impulso heterossexual, ali está a oportunidade de casar-se. Mas, se achar que é gay, o que estamos, na realidade, dizendo a ele é que simplesmente não há outro modo de agir, senão permanecer solteiro pelo resto da vida por não sentir atração por mulheres?
ÉLDER OAKS: É exatamente a mesma coisa que dizemos a muitos membros que não têm a oportunidade de casar-se. Esperamos o celibato de qualquer pessoa que não seja casada.
ÉLDER WICKMAN: Vivemos em uma sociedade tão saturada de sexualidade, que talvez seja mais desagradável agora, devido a esse fato, que uma pessoa enxergue além de sua orientação sexual para outros aspectos da vida. Acho que diria a seu filho ou a qualquer pessoa que estivesse assim afligida, que se esforçasse para expandir seus horizontes além de meramente a orientação sexual. Encontre realização nas muitas outras facetas de seu caráter, e sua personalidade e natureza se ampliarão. Não se nega que a orientação sexual seja certamente uma característica central de qualquer pessoa, mas não é a única.
E mais, meramente ter inclinações, não desqualifica uma pessoa para qualquer aspecto da participação ou associação à Igreja, exceto a possibilidade de casamento, como já foi mencionado. Mas, mesmo essa, na plenitude da vida como a entendemos por meio das doutrinas do evangelho restaurado, pode, eventualmente, tornar-se possível.
Nesta vida, coisas como serviço na Igreja, inclusive o serviço missionário, encontram-se disponíveis a qualquer um que seja fiel aos convênios e mandamentos.
RELAÇÕES PÚBLICAS: Então você está dizendo que os sentimentos homossexuais são controláveis?
ÉLDER OAKS: Sim, os sentimentos homossexuais são controláveis. Talvez haja uma inclinação ou suscetibilidade a eles, que sejam uma realidade para alguns, mas não uma realidade para outros. Mas, dessas suscetibilidades advêm sentimentos, e sentimentos são controláveis. Se atendermos aos sentimentos, eles aumentarão o poder da tentação. Se cedermos à tentação, teremos cometido um comportamento pecaminoso. Esse padrão é o mesmo para uma pessoa que cobiça a propriedade de outra e tem uma forte tentação de roubar. É o mesmo para quem desenvolve o gosto pelo álcool. É o mesmo para quem nasceu com ‘o pavio curto’, como diríamos, de grande suscetibilidade à ira. Se elas permitirem que essa suscetibilidade permaneça incontrolada, torna-se um sentimento mau, que pode levar a um comportamento pecaminoso e ilegal.
Não estamos falando aqui de um extraordinário desafio. Referimo-nos a uma condição comum da mortalidade. Não compreendemos exatamente o ‘porquê’, ou a extensão das inclinações ou suscetibilidades. Mas, o que sabemos é que sentimentos podem ser controlados, e o comportamento também. A linha do pecado encontra-se entre os sentimentos e o comportamento. A linha da prudência encontra-se entre a suscetibilidade e os sentimentos. Precisamos nos agarrar aos sentimentos e tentar controlá-los, para evitar enredar-nos em uma circunstância que leve ao comportamento pecaminoso.
ÉLDER WICKMAN: Um dos grandes sofismas de nossa época, acho eu, é que, meramente porque alguém sente uma inclinação para fazer algo, é inevitável que venha a agir de acordo com essa inclinação. Isso é contrário a nossa própria natureza, de acordo com o que o Senhor nos revelou. Nós realmente temos o poder de controlar nosso comportamento.
RELAÇÕES PÚBLICAS: Se tivéssemos que olhar para o passado, para uma pessoa de ‘pavio curto’ e procurássemos seus pais, que poderiam ter também esse ‘pavio curto’, alguns identificariam nisso uma influência genética.
ÉLDER OAKS: Não, não aceitamos o fato de que condições que impediram as pessoas de obter seu destino eterno eram inerentes delas, sem que houvesse qualquer capacidade de controlá-las. Isso é contrário ao Plano de Salvação e à justiça e misericórdia de Deus. É contrário a todo o ensinamento do evangelho de Jesus Cristo, que expressa a verdade de que, por meio ou através do poder e misericórdia de Jesus Cristo, teremos a força para fazer todas as coisas. Isso inclui resistir à tentação. Isso inclui lidar com coisas com as quais nascemos, inclusive desfigurações, ou incapacidades mentais ou físicas. Nenhuma delas é obstáculo ao caminho da obtenção de nosso destino eterno. O mesmo é dito quanto à suscetibilidade ou inclinação a um determinado comportamento ou outro que, se atendidos, nos impediriam de alcançar nosso destino eterno.
RELAÇÕES PÚBLICAS: Você está dizendo que a Igreja não tem necessariamente uma posição sobre ‘criação ou natureza’
ÉLDER OAKS: É aí que nossa doutrina entra em cena. A Igreja não tem uma posição quanto às causas de qualquer dessas susceptibilidades ou inclinações, incluindo as que se relacionam com a atração pelo mesmo sexo. Essas são questões científicas — seja criação ou natureza — são coisas sobre as quais a Igreja não tem uma posição.
ÉLDER WICKMAN: Seja natureza ou criação, realmente suscitam uma questão importante, e a preocupação com a natureza ou criação pode, parece-me, desviar a pessoa dos princípios que o Élder Oaks descreveu aqui. Por que alguém tem atração pelo mesmo sexo (…), quem pode dizer? Mas, o que importa é o fato de que sabemos ser possível controlarmos como nos comportamos, e o importante é o comportamento.
RELAÇÕES PÚBLICAS: A terapia de qualquer tipo é recomendável, se estivermos falando a respeito de controle do comportamento? Se um rapaz disser: “Vejam, eu realmente quero que esses sentimentos vão embora (…) Eu faria qualquer coisa para que esses sentimentos desaparecessem”, é legítimo procurar a terapia clínica de algum tipo que aborde essas questões?
ÉLDER WICKMAN: Bem, pode ser apropriado para aquela pessoa procurar a terapia. Certamente a Igreja nada diz contra esse tipo de terapia. Mas, do ponto de vista de um pai ou mãe aconselhando um filho, ou de um líder da Igreja aconselhando uma pessoa, ou de uma pessoa encarar sua atração pelo mesmo sexo do ponto de vista de ‘O que posso fazer sobre a questão, que seja de acordo com os ensinamentos do evangelho?’ o lado clínico da questão não é o que interessa mais. O mais importante é o reconhecimento de que ‘Tenho minha própria vontade. Tenho meu próprio arbítrio. Tenho dentro de mim o poder de controlar o que faço’.
Ora, isso não quer dizer que não seja apropriado que alguém com esse tipo de aflição procure a ajuda clínica apropriada para verificar se há em seu caso alguma coisa que possa ser feita. Essa é uma questão que os que abraçaram a profissão da psiquiatria e psicologia têm debatido. Creio que os estudos de caso têm demonstrado que, em alguns casos, tem havido progresso na ajuda a alguns para que mudem essa orientação; em outros casos, não. Do ponto de vista da Igreja, de nosso ponto de vista de interesse pelas pessoas, não é aí que colocamos nosso enfoque principal. É nessas outras questões.
ÉLDER OAKS: Amém a isso. Permitam-me acrescentar mais um pensamento. A Igreja raramente toma uma posição sobre se são apropriadas, ou não, as técnicas de tratamento de médicos, ou psiquiatras ou psicólogos e assim por diante.
O segundo ponto é que há práticas abusivas que têm sido empregadas em relação a diversas atitudes mentais ou sentimentos. O excesso de medicação no que diz respeito à depressão é um exemplo que vem à mente. As terapias aversivas usadas com relação à atração pelo mesmo sexo têm registrado alguns abusos sérios que foram reconhecidos pelos especialistas. Embora não tenhamos uma posição quanto ao que os médicos fazem (exceto em casos muito, muito raros — o aborto seria um desses exemplos), estamos cientes de que existem abusos e não aceitamos a responsabilidade por eles. Muito embora sejam dirigidos à ajuda de pessoas que gostaríamos de ver que estão sendo auxiliadas, não podemos endossar todo tipo de técnica que esteja sendo empregada.
RELAÇÕES PÚBLICAS: O casamento heterossexual pode ser uma opção para os que têm inclinações homossexuais?
ÉLDER OAKS: Às vezes nos perguntam se o casamento é um remédio para essas inclinações sobre as quais estamos conversando. O Presidente Hinckley, encarando o fato de que aparentemente alguns acreditavam que seria um remédio, e que talvez alguns líderes da Igreja tivessem até mesmo aconselhado o casamento como um remédio para esses sentimentos, fez esta declaração: “O casamento não deve ser encarado como um passo terapêutico para resolver problemas como inclinações ou práticas homossexuais”. Para mim, isso significa que não vamos ficar parados pondo em risco as filhas de Deus que realizam tal tipo de casamento sob falsas aparências ou sob uma nuvem que lhes seja desconhecida. Pessoas que passam por esse tipo de desafio que não podem controlar, não poderiam ingressar no casamento de boa fé.
Por outro lado, os que se purificaram de alguma transgressão e que demonstraram sua capacidade de lidar com esses sentimentos ou inclinações e deixá-los para trás, e acabam sentindo uma grande atração por uma filha de Deus e, portanto, desejam ingressar no casamento e ter filhos e desfrutar das bênçãos da eternidade — essa é uma situação em que o casamento seria apropriado.
O Presidente Hinckley disse que o casamento não é um passo terapêutico para resolver problemas.
ÉLDER WICKMAN: Uma pergunta que pode ser feita por alguém que esteja lutando contra a atração pelo mesmo sexo é: “Isto é algo em que estou atolado para sempre? Qual é sua influência na vida eterna? Se, de alguma forma, eu puder suportá-lo durante esta vida, quando eu estiver no outro lado, como vai ser?”
Felizmente a resposta é que a atração pelo mesmo sexo não existia na vida antes da terrena nem existirá na próxima vida. É uma circunstância que, seja qual for a razão ou razões, se aplica agora mesmo, na mortalidade, nesse nanossegundo da nossa existência eterna.
A boa notícia para alguém que esteja lutando contra a atração pelo mesmo sexo é esta: 1) É que ‘eu’ não estou atolado nela para sempre.É só por agora. Confessadamente, para cada um de nós, às vezes é difícil olhar para além do ‘agora’. No entanto, se você encara a mortalidade como agora, é apenas durante esse período. 2) Se eu puder manter-me digno aqui, se puder ser fiel aos mandamentos do evangelho, se puder manter os convênios que fiz, as bênçãos da exaltação e vida eterna que o Pai Celestial tem para todos os Seus filhos aplicam-se a mim. Todas as bênçãos — inclusive o casamento eterno — são e serão minhas na ocasião oportuna.
ÉLDER OAKS: Permitam-me acrescentar mais um pensamento. Não há plenitude de alegria na próxima vida sem uma unidade familiar, inclusive um marido, uma mulher e a posteridade. Além disso, os homens existem para que tenham alegria. Na perspectiva eterna, a atividade do mesmo sexo só trará tristeza, pesar e a perda de oportunidades eternas.
RELAÇÕES PÚBLICAS: Há pouco, Élder Oaks, você falou a respeito do mesmo padrão de moralidade para heterossexuais e homossexuais. Como você responderia a alguém que lhe dissesse: ‘Compreendo que seja o mesmo padrão, mas não estaremos pedindo um pouco mais de alguém que tenha atração pelo mesmo sexo?’ É óbvio que há pessoas heterossexuais que não se casarão, mas você aceitaria que elas pelo menos tenham a esperança de que ‘amanhã eu poderei encontrar a pessoa de meus sonhos’.Há sempre a esperança de que isso possa acontecer em qualquer época da vida delas. Alguém com atração pelo mesmo sexo não teria, necessariamente, aquela mesma esperança.
ÉLDER OAKS: É claro que existem diferenças, mas o contraste não é excludente. Há pessoas com incapacidades físicas que as impedem de ter qualquer esperança - em alguns casos, qualquer esperança verdadeira e em outros casos qualquer esperança real - de casamento. A circunstância de ser atualmente incapaz de casar-se, embora trágica, não é excludente.
Diz-se, algumas vezes, que Deus não poderia discriminar pessoas nessa circunstância. Mas a vida é repleta de enfermidades físicas que alguns podem encarar como discriminações - paralisia total ou séria debilidade mental, duas que são relativas ao casamento. Se acreditamos em Deus e cremos em Sua misericórdia e justiça, isso não serve para dizer que essas sejam discriminações, porque Deus não discrimina. Não estamos em condições de julgar o que é discriminação. Nós nos apoiamos em nossa fé em Deus e nossa extrema certeza de Sua misericórdia e Seu amor por todos os Seus filhos.
ÉLDER WICKMAN: Realmente, não há dúvida de que existe uma angústia ligada à incapacidade de casar nesta vida. Sentimos muito por alguém que sofra com essa angústia. Sinto por quem tenha essa angústia. Mas não está limitada a alguém que tenha atração pelo mesmo sexo.
Vivemos em uma época muito desvinculada. Acho que é naturalmente humano pensar a respeito de meus próprios problemas como algo maior do que os de outra pessoa. Acho que, quando qualquer um de nós começa a pensar dessa forma, poderia ser bom olhar um pouco além de nós mesmos. Quem sou eu para dizer que tenho maior desvantagem ou estou sofrendo mais do que alguma outra pessoa?
Eu tenho uma filha com dificuldades. É uma menina linda. Na semana que vem, fará 27 anos. O nome dela é Courtney. Courtney nunca se casará nesta vida, e percebo que ela observa melancolicamente aqueles que o fazem. Ela fica à janela de meu escritório de onde se divisa o Templo de Salt Lake e observa as noivas e maridos recém-casados enquanto tiram fotografias. Ao mesmo tempo, ela se cativa com isso e se entristece, porque compreende que nunca terá ali essa experiência. Courtney não pediu pelas circunstâncias em que nasceu nesta vida, da mesma forma que aconteceu com alguém que tenha nascido com atração pelo mesmo sexo. Portanto, há muitos tipos de tristezas que as pessoas podem ter, mesmo associadas com apenas este assunto de casamento. Aquilo que ansiamos e a grande promessa do evangelho é que, sejam quais forem nossas inclinações aqui, sejam quais forem nossas deficiências aqui, sejam quais forem os impedimentos para que gozemos da plenitude da alegria aqui, temos a garantia do Senhor a cada um de nós que, no devido tempo, os empecilhos serão retirados. Só precisamos nos manter fiéis.
RELAÇÕES PÚBLICAS: Élder Wickman, quando anteriormente você mencionou o serviço missionário, apresentou-o como uma solução para alguém que sentisse atração pelo mesmo sexo, mas não pusesse isso em ação. O Presidente Hinckley disse que, se as pessoas forem fiéis, podem, essencialmente, ir adiante como qualquer outra na Igreja e usufruir de uma associação plena. Qual o real significado disso? Isso significa serviço missionário? Significa que alguém pode ir ao templo, pelo menos para os sacramentos que não envolvam o casamento? Isso quer realmente dizer que alguém que tenha atração pelo mesmo sexo, desde que seja fiel, tem todas as oportunidades de participar, ser chamado a servir, e fazer todos os tipos de coisas que qualquer outra pessoa pode?
ÉLDER WICKMAN: Creio que uma resposta curta a essa pergunta é, sim! Eu pediria ao Élder Oaks que desenvolvesse o assunto.
ÉLDER OAKS: O Presidente Hinckley ajudou-nos com relação a esse assunto com uma clara declaração que responde a todas as perguntas dessa natureza. Ele disse: “Nós os amamos (referindo-se às pessoas que têm atração pelo mesmo sexo) como filhos e filhas de Deus. Eles talvez tenham certas inclinações que sejam fortes e difíceis de controlar. Se eles não se deixarem levar por essas tendências, poderão viver como todos os membros da Igreja”.
Para mim, isso significa que alguém que tenha essas inclinações, quando mantidas sob controle, ou, que cedeu a elas e se arrependeu de modo apropriado, está capacitado a cumprir qualquer coisa dentro da Igreja que possa ser feita por qualquer membro da Igreja que seja solteiro. Há, ocasionalmente, um cargo, como o de bispo, em que a pessoa precisa ser casada. Mas isso é uma exceção na Igreja. Toda posição de ensino, toda posição missionária pode ser ocupada por pessoas solteiras. A esse tipo de serviço, damos as boas-vindas às pessoas que lutam contra qualquer tipo de tentação, quando essa luta for uma boa luta e elas estiverem vivendo de modo que possam ser professores, ou missionários ou qualquer chamado conveniente.
ÉLDER WICKMAN: Isso não é realmente o significado da Expiação na vida de uma pessoa? A Expiação não começa a significar algo para uma pessoa, quando ela está tentando enfrentar os desafios de viver, sejam eles tentações ou limitações? A disposição de voltar-se para o Salvador, a oportunidade de ir à reunião sacramental num domingo, e realmente participar na ordenança do sacramento (…) ouvir as orações, participar daqueles emblemas sagrados. Essas são oportunidades que realmente nos ajudam a entrar no âmbito da Expiação do Salvador. Examinando sob esse prisma, então qualquer oportunidade de servir na Igreja é uma bênção. Como já foi mencionado, existe um número relativamente pequeno de chamados na Igreja que exigem o casamento.
ÉLDER OAKS: Há outro ponto a acrescentar aqui, e esse vem de uma recente declaração da Primeira Presidência, que é uma descrição maravilhosa de nossa atitude com relação ao assunto: “Nós, de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, estendemos os braços com compreensão e respeito às pessoas que sejam atraídas por aquelas do mesmo sexo. Reconhecemos que deve haver grande solidão em sua vida, mas deve haver também o reconhecimento daquilo que é certo diante do Senhor”.
RELAÇÕES PÚBLICAS: O que vocês diriam àqueles membros da sociedade, membros da Igreja, que podem encarar a atração pelo mesmo sexo como diferente das outras tentações, de qualquer outro conflito que as pessoas enfrentam? Em primeiro lugar, você acha que seja uma avaliação justa que algumas pessoas tenham esse sentimento? O que você lhes diria?
ÉLDER OAKS: Creio que é uma declaração exata dizer que algumas pessoas consideram os sentimentos de atração pelo mesmo sexo como o fato marcante de sua existência. Existem também pessoas que consideram como fato marcante da sua existência serem do Texas ou terem participado dos Fuzileiros Navais dos Estados Unidos. Ou por serem ruivos, ou por serem o melhor jogador de basquetebol que já jogou para tal e tal escola. As pessoas podem adotar uma característica como o exemplo marcante de sua existência e com frequência essas características são físicas.
Temos o arbítrio para escolher que características nos definirão; essas escolhas não são atiradas sobre nós.
O fato marcante conclusivo para todos nós é que somos filhos de Pais Celestiais, nascidos nesta Terra para um propósito, e com um destino divino. Quando qualquer dessas outras noções, sejam elas quais forem, entrarem no caminho daquele fato marcante conclusivo, então isso se torna destrutivo e nos leva para o caminho errado.
RELAÇÕES PÚBLICAS: Vocês dois mencionaram a questão da solidariedade e esse sentimento relativo a ser solidário. Vamos adiantar o cenário que usamos antes, e imaginar que se passaram uns anos. Minha conversa com meu filho, todos os nossos esforços para amá-lo e mantê-lo na Igreja falharam em alcançar o que ele considera a questão central — que ele não pode mudar seus sentimentos. Agora nos está dizendo que vai sair de casa. Pretende morar com um amigo gay. Está inflexível quanto a isso. Qual deve ser a reação apropriada de um pai santos dos últimos dias nessa situação?
ÉLDER OAKS: A mim parece que um pai santo dos últimos dias tem a responsabilidade de afirmar, com amor e gentileza, baseado nos ensinamentos do Senhor por meio de Seus profetas, que o curso de ação que ele está prestes a tomar é pecaminoso. Enquanto afirmamos nosso contínuo amor por ele, e afiançando que a família continua a ter os braços abertos para ele, acho que seria bom examinar com ele algo como o seguinte, que é uma declaração da Primeira Presidência em 1991: “A lei do Senhor referente à conduta moral é a de abstinência fora do casamento legal e fidelidade dentro dele. As relações sexuais só são apropriadas entre marido e mulher, expressas apropriadamente dentro dos laços do casamento. Qualquer outra conduta sexual, incluindo-se fornicação, adultério e comportamento homossexual é pecaminosa. Aqueles que persistem nessas práticas ou que influenciam os outros a fazê-lo, estão sujeitos à disciplina da Igreja”.
Minha primeira responsabilidade como pai é certificar-me de que ele entenda isso, e então dizer-lhe: ‘Meu filho, se você escolher deliberadamente ingressar nesse tipo de comportamento, ainda assim é meu filho. A Expiação de Jesus Cristo é suficientemente poderosa para estender-se até você e purificá-lo, se você se arrepender e abandonar esse comportamento pecaminoso, mas recomendo-lhe insistentemente que não tome esse caminho, porque o arrependimento não é fácil. Você está embarcando em um curso de ação que o debilitará em sua capacidade de arrepender-se. Isso anulará sua percepção daquilo que é importante na vida. Ao final, poderá arrastá-lo tão profundamente, que você não conseguirá voltar. Não aja dessa maneira! Mas, se escolher esse caminho, tentaremos sempre ajudá-lo e trazê-lo de volta ao caminho do progresso.
ÉLDER WICKMAN: Uma forma de ler o Livro de Mórmon é como se fosse um livro de encontros entre pais e filhos. Alguns desses encontros foram muito positivos e reforçadores por parte do pai de um filho. Outros foram ocasiões em que o pai teve que dizer a seu filho ou a seus filhos que o caminho que estavam seguindo era incorreto diante do Senhor. Contudo, isso precisa ser feito no espírito de amor e boas-vindas, pois, como mencionou o Élder Oaks, ‘Você sempre será meu filho’.Existe um antigo ditado que é realmente verdadeiro para todo pai: ‘Você não fracassou até que pare de tentar’.Acho que isso significa tanto em termos de aproveitar todas as oportunidades para ensinar aos filhos o caminho certo, mas todo o tempo certificando-se de que eles sabem que, acima de tudo, você os amará.
RELAÇÕES PÚBLICAS: A que ponto a demonstração desse amor cruza a linha de endossar inadvertidamente o comportamento? Se o filho disser: ‘Muito bem, se você me ama, posso trazer meu parceiro para visitar nossa casa? Podemos vir passar aqui as festas?’ Como você equilibra isso em contraste com, por exemplo, a preocupação com os outros filhos da casa?’
ÉLDER OAKS: Esta é uma decisão que precisa ser tomada individualmente pela pessoa responsável, invocando o Senhor para obter inspiração. Posso imaginar que, na maioria das circunstâncias, os pais diriam: ‘Por favor, não faça isso. Não nos coloque nessa posição’.É claro que, se houver crianças na casa que possam ser influenciadas por esse exemplo, a resposta será provavelmente essa. Poderia também haver outros fatores que fariam dessa a provável resposta.
Posso também imaginar certas circunstâncias em que poderia ser possível dizer: ‘Sim, venha, mas não espere passar a noite. Não espere ser um hóspede por muito tempo. Não espere que saiamos com você e o apresentemos a nossos amigos, ou lidemos com você em uma situação pública que implicaria nossa aprovação de sua “companhia”.
Existem tantas diferentes circunstâncias, é impossível dar uma resposta que se enquadre a todas.
ÉLDER WICKMAN: É difícil imaginar uma circunstância mais desagradável de ser encarada por um pai do que essa. É uma determinação que deve ser estudada caso a caso. A única coisa que eu adicionaria ao que Élder Oaks acaba de dizer é que acho que é importante, como pai, evitar uma potencial armadilha que surja da angústia de alguém diante dessa situação.
Refiro-me à mudança da defesa da maneira do Senhor, para a defesa do estilo de vida do filho errante, tanto com ele como com os outros. É verdadeiramente a maneira do Senhor de amar ao pecador enquanto condena o pecado. Isso quer dizer que continuamos a abrir nossa casa e nosso coração e nossos braços para nossos filhos, mas não precisa significar uma aprovação ao seu estilo de vida. Nem quer dizer que precisemos ficar constantemente dizendo-lhes que o seu estilo de vida é impróprio. Outro erro ainda maior é nos tornarmos agora defensores do filho, porque isso nem ajuda ao filho nem ao pai. A experiência ensina que esse curso de ação irá, quase que certamente, levar os dois para longe do caminho do Senhor.
ÉLDER OAKS: A Primeira Presidência fez um maravilhoso pronunciamento sobre o assunto em uma carta de 1991. Falando das pessoas e famílias que estavam enfrentando esse tipo de problema, disseram: “Incentivamos os líderes e membros da Igreja a estenderem os braços com amor e compreensão àqueles que lutam contra esses problemas”. É claro que somos aconselhados como um corpo de membros da Igreja a estender os braços com amor e compreensão àqueles que ‘lutam contra esses problemas’, essa obrigação recai com particular intensidade sobre os que têm filhos que lutam contra essas questões (…), mesmo a filhos que estão enredados em comportamento pecaminoso associado a essas circunstâncias.
RELAÇÕES PÚBLICAS: A rejeição de um filho, até certo ponto, é a reação natural de alguns pais, sempre que seus filhos não preencherem suas expectativas? Às vezes é mais fácil ‘fechar a janela’ a um problema do que lidar com ele?
ÉLDER OAKS: Certamente incentivamos os pais a não se culparem e conclamamos os membros da Igreja a não culparem os pais nessas circunstâncias. Devemo-nos lembrar de que nenhum de nós é perfeito e nenhum de nós tem filhos cujo comportamento esteja inteiramente de acordo com aquilo que gostaríamos que fizessem em todas as circunstâncias.
Sentimos grande compaixão pelos pais cujo instinto de amor e proteção por seus filhos que estão em posição de desafio fez com que abraçassem certas posições que são contrárias à Igreja. Espero que o Senhor seja misericordioso para com os pais cujo amor por seus filhos fez com que caíssem nessas armadilhas.
RELAÇÕES PÚBLICAS: Vamos avançar rapidamente outra vez. Meu filho agora deixou completamente de ir à Igreja. Parece que não há perspectiva de que volte. Agora ele me diz que planeja ir para o Canadá, onde é permitido o casamento homossexual. Ele insiste em que concorda que o relacionamento matrimonial é importante. Ele não é promíscuo; tem um relacionamento. Ele e seu companheiro pretendem ter esse relacionamento para o resto da vida. Ele não entende que um compromisso para a vida toda não possa ser aceito pela Igreja, quando a sociedade parece estar-se movendo nessa direção. Mais uma vez, se sou um pai santos dos últimos dias, o que se espera que eu lhe diga?
ÉLDER WICKMAN: Para começar, o casamento não é uma questão de política nem de norma social. O casamento é definido pelo Próprio Senhor. É uma instituição que é cerimoniosamente realizada pela autoridade do sacerdócio no templo [e] transcende este mundo. É de tão profunda importância (…) uma doutrina tão essencial do evangelho de Jesus Cristo, do próprio propósito da criação desta Terra. Uma pessoa mal pode passar a primeira página do Gênesis sem ver isso muito claramente. Não é uma instituição para ser alterada pelo gênero humano, e certamente não é para ser alterada por aqueles que o estão fazendo simplesmente para seus próprios propósitos. Não existe, aos olhos do Senhor, isso que se chama casamento homossexual. O comportamento homossexual é, e permanecerá sempre um pecado abominável diante do Senhor. Chamá-lo de outra coisa por causa de alguma definição política não muda essa realidade.
ÉLDER OAKS: Outro modo de dizer essa mesma coisa é que o Parlamento do Canadá e o Congresso em Washington não têm autoridade para revogar os mandamentos de Deus, ou de modificá-los ou emendá-los de qualquer modo.
RELAÇÕES PÚBLICAS: Em alguns sites gays existem aqueles que alegam que o comportamento homossexual não é especificamente proibido na Bíblia, particularmente no Novo Testamento. Alguns argumentam que a compaixão e amor de Jesus Cristo pela humanidade abrangem esse tipo de relacionamento. Qual é o ensinamento da Igreja com relação a isso?
ÉLDER WICKMAN: Para iniciar, os que afirmam isso precisam ler sua Bíblia mais cuidadosamente. Além disso, é como comparar maçãs e laranjas ao referir-se ao amor que o Salvador expressou por toda a humanidade, por toda pessoa, por todo homem, toda mulher e criança, com a doutrina relacionada ao casamento.
Na realidade, o Salvador fez uma declaração referente ao casamento, embora em um contexto um tanto diferente. Jesus disse que: “Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem”.
Geralmente pensamos nessa expressão no contexto de duas pessoas, um homem e uma mulher, sendo casados, e na impropriedade de alguém tentar separá-los. Creio que pode ter um significado mais amplo em sentido doutrinário. O casamento de um homem e uma mulher está claro no ensinamento bíblico do Velho Testamento, assim como no ensinamento do Novo [Testamento]. Qualquer pessoa que tente despedaçar essa noção, estará da mesma forma discordando do que o Próprio Jesus disse. É importante manter em mente a diferença entre o amor de Jesus e Sua definição de doutrina, e a definição de doutrina que veio dos apóstolos e profetas do Senhor Jesus Cristo, tanto em tempos antigos como modernos.
RELAÇÕES PÚBLICAS: E sobre os que poderão dizer: “Muito bem, os santos dos últimos dias têm o direito de acreditar no que quiserem. Se vocês não acreditam nos casamentos homossexuais, tudo bem com vocês. Mas, por que tentar regular o comportamento de outras pessoas que nada têm a ver com sua religião, especialmente quando algumas nações da Europa sancionaram legalmente esse tipo de casamento? Por que não dizer simplesmente: “Não concordamos doutrinariamente com isso para nosso povo” e deixar assim. Por que lutar para obter uma emenda Constitucional [nos Estados Unidos], por exemplo?
ÉLDER WICKMAN: Não estamos tentando regular as pessoas, mas essa noção de que ‘o que acontece em sua casa não afeta o que acontece na minha’ sobre o assunto da instituição do casamento, pode ser o sofisma máximo daqueles que defendem o casamento homossexual.
Algumas pessoas promovem a ideia de que pode haver dois casamentos, coexistindo lado a lado, um heterossexual e um homossexual, sem que haja nenhuma consequência adversa. A dura realidade é que, como uma instituição, o casamento, como todas as outras instituições, só pode ter uma definição sem mudar o próprio caráter da instituição. Daí que não pode haver nenhuma coexistência de dois casamentos. Ou existe o casamento como é agora definido e como definido pelo Senhor, ou existe o que poderia consequentemente ser descrito como casamento sem gênero sexual. Esse último é repugnante a Deus, que, como temos discutido, descreveu Ele mesmo como é o casamento — entre um homem e uma mulher.
Uma redefinição dessa instituição, portanto, redefine-o para todos — não apenas aos que estão procurando ter um casamento assim chamado de homossexual. Ignora também a definição que o Próprio Senhor deu.
ÉLDER OAKS: Há outro ponto que pode ser abordado sobre isso. Não nos vamos esquecer de que, durante milhares de anos, a instituição do casamento tem sido entre um homem e uma mulher. Até bem recentemente, em um número limitado de países, não tem havido essa coisa de casamento entre pessoas do mesmo sexo. Repentinamente, somos defrontados com a pretensão de que milhares de anos de experiência humana devem ser postos de lado, porque não devemos fazer discriminação no que tange à instituição do casamento. Quando é feita essa pretensão, a carga de provar que esse passo não desfará a sabedoria e estabilidade de milênios de experiência repousa sobre aqueles que querem fazer a mudança. No entanto, é lançada a questão, e o assunto é apresentado como se aqueles que acreditam no casamento entre um homem e uma mulher tenham a responsabilidade de provar que ele não deve ser extensivo a alguns outros conjuntos de condições.
RELAÇÕES PÚBLICAS: Há os que dizem que isso se teria aplicado melhor na década de 1950 ou antes do século XXI. Se vocês observarem diversas nações da Europa, por exemplo, o casamento tradicional está em um declínio tão acelerado, que não é mais a norma. Se o casamento está evoluindo, devemos resistir a esse tipo de mudanças sociais?
ÉLDER OAKS: Esse argumento me impressiona como algo semelhante ao fato de que, se concordarmos que o paciente está doente e piorando, devemos, portanto, aprovar um golpe de misericórdia. O golpe de misericórdia que termina completamente com a vida do paciente é bem equivalente à drástica modificação na instituição do casamento, caso se aceitasse o casamento homossexual.
RELAÇÕES PÚBLICAS: Você falou sobre o malefício que poderia advir sobre a sociedade com a redefinição do casamento. O que diria para as pessoas que declaram: “Conheço pessoas gays que estão se relacionando há longo tempo. São ótimas pessoas. Amam-se mutuamente. Que mal faria ao meu casamento heterossexual permitir-lhes o mesmo ‘rito’?
ÉLDER WICKMAN: Deixem-me repetir o que disse há pouco. Acredito que esse argumento seja um verdadeiro sofisma, porque o casamento é uma instituição unificada. O casamento significa um relacionamento comprometido, legalmente sancionado entre um homem e uma mulher. É isso que ele significa. É o que dizem as revelações. É o que significa na lei secular. Não se pode ter o casamento coexistindo institucionalmente com alguma outra coisa denominada casamento homossexual. É simplesmente uma impossibilidade de definição. No ponto em que vocês agora, como uma instituição, começam a reconhecer um relacionamento legalmente sancionado, um relacionamento de compromisso entre duas pessoas do mesmo sexo, vocês agora redefiniram a instituição como sendo de casamento independente de sexo.
Como mencionamos em resposta a outras perguntas, [o casamento sem gênero sexual] é contrário à lei de Deus, à Palavra revelada. As escrituras, antigas e modernas, não poderiam ser mais claras quanto à definição do que o Senhor e Seus representantes deram ao casamento através das dispensações.
Mas há um efeito profundo de uma forma muito secular em todos os outros. Aquilo que acontece na casa de alguém no fim da rua tem, de alguma forma, efeito naquilo que acontece em minha casa e na maneira como é encarado. A sugestão de que, em face desses milênios de história e das revelações de Deus e do completo modelo humano, eles têm o direito de redefinir completamente a instituição para todos, é presunçoso ao extremo e terrivelmente teimoso.
ÉLDER OAKS: Outro ponto a pensar a respeito disso é indicado em uma pergunta. Se um casal que estiver coabitando, feliz e comprometido mutuamente, quiser que seu relacionamento seja denominado casamento, por que quererá isso? Considerando o que dizem que têm, por que desejam adicionar a isso a condição legal de casamento que foi honrada e experimentada durante milhares de anos? O que desejam aqueles que defendem o casamento homossexual? Se isso pudesse ser articulado sobre alguma outra base que não fosse a discriminação, o que não é um argumento muito bom, seria mais fácil responder à pergunta que você fez, e acho que isso revelaria a solidez daquilo que já ouvimos.
Existem certos aspectos do casamento — algumas consequências legais e sociais e certa legitimidade — que, se fossem dadas a algum relacionamento que não fosse o casamento entre um homem e uma mulher, tendem a degradar, senão destruir, a instituição que tem sido reverenciada durante muitos milhares de anos.
Além disso, se as pessoas desejarem legalizar um determinado relacionamento, precisam ter cuidado em verificar se esse tipo de relacionamento foi desaprovado durante milênios. Há, subitamente, um clamor para que sejam legalizados, a fim de que se sintam melhor a respeito de si mesmos. Esse argumento se prova um pouco exagerado. Suponham que uma pessoa está ganhando a vida com algum comportamento ilegal, mas não se sente bem com relação a isso. (Ele pode ser um ladrão profissional ou estar vendendo um serviço que seja ilegal, seja o qual for.) Será que vamos legalizar seu comportamento, porque ele está sendo discriminado em suas oportunidades profissionais ou porque ele não se sente bem quanto ao que está fazendo e deseja ‘sentir-se bem’ ou quer que seu comportamento seja legitimado aos olhos da sociedade ou de sua família? Acho que a resposta é que não legalizamos um comportamento por essas razões, a menos que sejam motivos muito persuasivos levantados para fazer uma mudança na situação atual.
RELAÇÕES PÚBLICAS: Vocês estenderiam esse mesmo argumento contra o casamento homossexual a uniões civis ou a outros benefícios que não o casamento?
ÉLDER WICKMAN: Uma forma de pensar em casamento é como um feixe de direitos associados àquilo que significa duas pessoas serem casadas. O que a Primeira Presidência fez foi expressar seu apoio ao casamento e àquele grupo de direitos pertencentes a um homem e uma mulher. A Primeira Presidência não se expressou a respeito de qualquer direito específico. Na verdade, não importa como vocês o chamem. Se vocês tiverem algum relacionamento legalmente sancionado com um pacote de direitos legais pertencentes tradicionalmente ao casamento, e a autoridade governante tenha jogado sobre isso um rótulo, seja uma união civil ou sociedade doméstica ou seja que rótulo for dado, ele será, não obstante, equivalente a casamento. Isso é algo que nossa doutrina simplesmente requer que nos expressemos e digamos: “Isso não está certo. Isso não é apropriado”.
Qualquer coisa menos que isso — no que concerne a relacionamentos que dão a certos pares em nossa sociedade algum direito, mas não todos aqueles associados ao casamento — quanto a isso, até onde sei, a Primeira Presidência não se expressou. Existem muitos tipos diferentes de relacionamentos ou de uniões que podem existir na sociedade que não são sexuais ou homossexuais, mas que proporcionam alguns direitos, aos quais não fazemos objeção. Tudo isso dito (…) ocasionalmente pode haver alguns direitos específicos que nos preocupariam serem dados em um relacionamento homossexual. A adoção é um que vem à mente, porque esse é um direito que tem sido, historicamente, associado de muito perto com o casamento e a família. Cito o exemplo da adoção porque tem a ver com a criação e educação de filhos. Nossos ensinamentos, mesmo os expressos recentemente em um sentido doutrinário muito completo na Proclamação sobre a Família por apóstolos e profetas vivos, é que os filhos merecem ser criados em um lar com pai e mãe.
RELAÇÕES PÚBLICAS: Na questão da emenda Constitucional proibindo o casamento homossexual, existem alguns santos dos últimos dias que se opõem ao casamento homossexual, mas que não aprovam que isso seja abordado por meio de uma emenda Constitucional. Por que a Igreja achou que deveria partir nessa direção?
ÉLDER OAKS: A lei tem pelo menos duas funções: uma é definir e regular os limites do comportamento aceitável. A outra é ensinar princípios para que as pessoas façam escolhas individuais. A lei declara inaceitáveis algumas coisas que são simplesmente não obrigatórias, e não existe promotor que tente fazê-las cumprir. Referimo-nos a isso como a função didática da lei. Chegou o tempo em nossa sociedade em que vejo grande sabedoria e propósito em uma emenda Constitucional dos Estados Unidos declarando que o casamento é entre um homem e uma mulher. Nada há naquela emenda proposta que exija um processo criminal ou que instrua os procuradores gerais a sair e vigiar as pessoas, mas ela declara um princípio e também cria uma barreira defensiva contra os que querem alterar aquela definição tradicional de casamento.
Há pessoas que se opõem a uma emenda na Constituição federal, porque pensam que a lei da família deve ser feita pelos Estados. Posso ver aí um argumento legítimo. No entanto, acho que é um erro, porque o governo federal, por meio das decisões de juízes com mandatos vitalícios federais, já assumiu essa área. Essa emenda Constitucional é uma medida defensiva contra aqueles que querem ignorar a vontade dos Estados apropriadamente expressa e requerem, como uma questão de lei federal, o reconhecimento dos casamentos homossexuais — ou a invalidação das leis estaduais que exigem que o casamento seja entre um homem e uma mulher. Em resumo, a Primeira Presidência manifestou-se por uma emenda (que pode ou não ser adotada) em apoio à função didática da lei. Tal emenda seria uma expressão muito importante da norma pública que sustentaria ou deveria sustentar as decisões de juízes do país inteiro.
ÉLDER WICKMAN: Permitam-me acrescentar mais um pensamento. Não foi a Igreja que tornou a questão do casamento um assunto de lei federal. Aqueles que estão vigorosamente defendendo algo chamado casamento homossexual foram os que, essencialmente, puseram a batata nas brasas. Foram eles que criaram uma situação pela qual a lei do país, de uma forma ou outra, vai abordar essa questão do casamento. Essa não é uma situação em que a Igreja tenha escolhido levar o assunto à arena legal ou à arena política. Ela já se encontra lá.
A questão é que a melhor maneira de assegurar que uma definição de casamento como se encontra atualmente continue, é colocá-la no documento legal fundamental dos Estados Unidos. Isso é, na Constituição. É para lá que a batalha a levou. Em última instância, é lá que a batalha vai ser decidida. Vai ser decidida como uma questão de lei federal de uma forma ou de outra. Consequentemente, não é um campo de batalha sobre uma questão que nós, santos dos últimos dias, tenhamos escolhido, mas foi estabelecida e temos pouca escolha que não seja expressar nosso ponto de vista a respeito dela, o que, na realidade, é tudo que a Igreja tem feito.
As decisões, mesmo para os membros da Igreja quanto ao que fizerem com relação a esse assunto, devem, é claro, repousar com cada um em sua posição como cidadãos.
RELAÇÕES PÚBLICAS: A ênfase dada ao casamento tradicional entre um homem e uma mulher apresentada nesta conversa foi consistente durante todo o tempo. Você vê alguma ironia no fato de que a Igreja seja tão franca publicamente a respeito dessa questão, quando, na mente de tantas pessoas nos Estados Unidos e no mundo todo, ela seja conhecida por já ter apoiado um arranjo matrimonial muito pouco tradicional — isto é, a poligamia?
ÉLDER OAKS: Vejo nisso ironia, se alguém a encarar sem a crença de que afirmamos crer em revelação divina. Os mórmons do século XIX, inclusive alguns de meus ancestrais, não estavam ansiosos para praticar o casamento plural. Eles seguiram o exemplo de Brigham Young, que expressou seus profundos sentimentos negativos quando esse princípio lhe foi inicialmente revelado. Os mórmons do século XIX que praticaram o casamento plural, homens e mulheres, fizeram-no porque sentiam que era um dever que lhes era imposto por Deus.
Quando esse dever foi retirado, eles foram orientados a agir conforme a lei do país, que proibia a poligamia e que havia sido considerada constitucional. Quando lhes foi dito que evitassem o casamento plural, houve provavelmente alguns que ficaram descontentes, mas creio que a maioria ficou grandemente aliviada e feliz de voltar aos hábitos da civilização ocidental, o casamento entre um homem e uma mulher. Em resumo, se você inicia com a pretensão de revelação contínua, sobre a qual esta Igreja é fundada, então poderá entender que não há nisso ironia alguma. Mas, se não iniciar com essa pretensão, poderá ver uma ironia profunda.
RELAÇÕES PÚBLICAS: E os diversos grupos de apoio àqueles com a aflição da atração pelo mesmo sexo?
ÉLDER WICKMAN: Penso que não os incentivamos ou desencorajamos, mas muito deve depender da natureza desses grupos. Certamente desencorajamos pessoas se envolvendo com qualquer grupo ou organização que promova um estilo de vida homossexual.
No final das contas, o rumo mais sábio para qualquer pessoa afligida pela atração pelo mesmo sexo é ampliar o seu horizonte além de apenas a orientação sexual, a orientação de sexo, e tentar ver a si mesmo como um todo. Se eu for alguém afligido pela atração pelo mesmo sexo, deveriam procurar ver-me em um contexto muito mais amplo (…), como um filho de Deus com quaisquer que sejam meus talentos, intelectuais, musicais, ou atléticos, ou alguém com ânimo para ajudar as pessoas, vendo num cenário maior e colocando minha vida nesse cenário.
Quanto mais uma pessoa puder divisar além da orientação sexual, maior a possibilidade da vida ser mais feliz e realizada. A pior coisa possível para qualquer de nós — não importa quais possam ser nossas tentações, não importa quais possam ser nossas inclinações mortais — é tornarmo-nos fixados nelas, insistir nelas. Quando fazemos isso, não apenas negamos as outras coisas que nos compõem, mas a experiência ensina que haverá uma probabilidade aumentada de que, com o tempo, simplesmente sucumbiremos à inclinação.
ÉLDER OAKS: O princípio abordado pelo Élder Wickman, em resumo, é que, se você está tentando viver com a atração pelo mesmo sexo e mantiver controle sobre elas, a melhor maneira de fazer isso é ter grupos que definam seus membros em termos que não sejam o de atração pelo mesmo sexo.
RELAÇÕES PÚBLICAS: Se você tivesse que descrever essa questão imensamente complexa em alguns princípios básicos, quais seriam eles?
ÉLDER OAKS: Deus ama a todos os Seus Filhos. Ele proporcionou um plano para que Seus filhos desfrutem as bênçãos mais especiais que Ele tem a oferecer na eternidade. Essas bênçãos mais especiais estão associadas ao casamento entre um homem e uma mulher pela autoridade apropriada do sacerdócio, a fim de ligar uma unidade familiar, para a criação e felicidade nesta vida e na vida futura.
Incentivamos as pessoas atraídas pelo mesmo sexo, a que se controlem e evitem pô-la em prática, o que é um pecado, da mesma forma que incentivamos as pessoas com atração heterossexual a não colocá-la em ação até que tenham a oportunidade de um casamento reconhecido tanto por Deus como pela lei do país. Esse é o caminho para a felicidade e vida eterna. Deus não nos deu nenhum mandamento que não nos tenha dado forças e poder para cumprir. Esse é o plano de salvação para Seus filhos, e é nosso dever proclamá-lo, ensinar sua verdade, e louvar a Deus pela missão de Seu Filho Jesus Cristo. É a Expiação de Cristo que torna possível sermos perdoados de nossos pecados, e Sua Ressurreição que nos dá a certeza da imortalidade e da vida futura. É a vida futura que orienta nossas visões na mortalidade e reforça nossa determinação de viver as leis de Deus, a fim de que possamos qualificar-nos para receber Suas bênçãos na imortalidade.
RELAÇÕES PÚBLICAS: Muito obrigado.